O corpo incorrupto de Santa Rita de Cássia

O corpo incorrupto de Rita de Cássia é um dos casos mais célebres de que se tem notícia na história da Igreja Católica.

Nascida Margherita Lotti, aquela que ficaria conhecida no mundo inteiro como a “santa das causas impossíveis” morreu ainda em 1457, mas, até hoje, quem quer que visite a pequena comuna de Cássia, no interior da Itália, ficará impressionado em encontrar os restos mortais dessa santa mulher ainda bem preservados no interior de uma urna dourada de cristal.

Numerosos são, além disso, os eventos miraculosos relacionados a essas relíquias, começando pelo que se relata ter acontecido no momento mesmo de sua morte, quando a cela em que ela se encontrava ficou repleta de um perfume extraordinário e uma luz espantosa emanou do estigma que ela tinha na testa.

Como se sabe da vida de Santa Rita de Cássia, o estigma que ela trazia em sua fronte, a princípio, nada tinha de glorioso: tratava-se de uma ferida supurante e malcheirosa, que fez com que ela vivesse seus últimos 15 anos sobre a terra em absoluto recolhimento. Curiosamente, porém, foi dessa mesmíssima chaga que emanou uma luz inexplicável após a sua morte. É como se Deus atestasse, com isso, a glória que existe por trás de todo sofrimento, quando vivido neste mundo por amor a Deus. Como escreve o Apóstolo, “a insignificância de uma tribulação momentânea acarreta para nós um volume incomensurável e eterno de glória” (2Cor 4, 17).

Ao redor do túmulo de Rita foram relatados ainda muitos fenômenos odoríferos, perfumes que eram exalados de seus restos mortais. O Papa Bento XIV, ao explicar esse milagre, em uma famosa obra sobre a beatificação dos servos de Deus, considerava com muita sabedoria o seguinte:

“Que o corpo humano possa naturalmente não cheirar mal, é muito possível; mas que cheire bem está acima de suas forças naturais, como ensina a experiência. Por conseguinte, se o corpo humano, corrompido ou incorrupto, em putrefação ou sem ela […], exala um odor suave, persistente, que não incomoda a ninguém, mas que parece agradável a todos, deve-se atribuí-lo a uma causa superior e deve pensar-se em um milagre.”

Todos esses acontecimentos extraordinários fizeram as autoridades civis e eclesiásticas instalarem o túmulo de Rita em um lugar acessível aos peregrinos, que não deixavam de visitar a santa. O seu corpo foi depositado, então, em um oratório interno, conservando-se debaixo de um altar, onde podia facilmente ser venerado pelas pessoas.

Antes de sua beatificação, em 16 de julho de 1627, por ato do Papa Urbano VIII, o corpo foi cuidadosamente examinado e achado perfeitamente como no dia de sua morte, com a pele apresentando ainda a sua cor natural — fato que salta aos olhos principalmente porque o seu corpo nunca tinha sido adequadamente sepultado, no correr de mais de 150 anos. Conservados nos arquivos da diocese de Spoleto, na Itália, estão ainda muitos outros relatos impressionantes que se deram ao longo destes séculos: os olhos da santa que se teriam aberto sozinhos, por exemplo, e o seu corpo inteiro que se teria movido, dentro do sarcófago, de um lado para o outro, chegando mesmo a levitar até o topo da urna, na presença de várias testemunhas.

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Canonizada em 1900 pelo Papa Leão XIII, Santa Rita de Cássia teve o seu corpo transladado, em meados do século passado, para uma basílica construída em sua honra. No relicário de ouro abrigado no interior dessa igreja é onde se encontram os seus restos mortais até os dias de hoje, os quais continuam a receber, todos os anos, milhares de devotos, vindos do mundo inteiro.

Os leitores mais céticos poderão gracejar diante de todos os milagres acima mencionados, assim como fariam com os milagres de um Santo Antônio de Lisboa, de um São Francisco de Paula ou do próprio Jesus Cristo. Quando a ciência moderna, no entanto, vem respaldar os eventos inexplicáveis associados à vida de um Padre Pio, por exemplo, que viveu há tão pouco tempo, é preciso perguntar ao homem moderno: se um capuchinho podia, pelo poder de Deus, operar tantos prodígios, por que não os santos dos séculos passados? Por que não os santos da Idade Média, como Santa Rita de Cássia? Por que não Jesus Cristo, como consta em inúmeras passagens dos Evangelhos?

A verdade é que, infelizmente, nem um milhão de milagres pode demover um coração obstinado na incredulidade. Se diante do próprio Deus encarnado, o maior sinal a que poderiam ter acesso os seres humanos, inúmeros foram os que se recusaram a crer, a história de outras épocas não seria muito diferente.

A Deus, porém — nós cremos —, nada é impossível. Inspirados, pois, pela biografia de Santa Rita de Cássia, possamos também nós trilhar, na oração e no sacrifício, o caminho para a conversão dos homens do nosso tempo, assim como a “santa das causas impossíveis” conseguiu, do Céu, a salvação de seu marido, de seus filhos biológicos e de tantos outros filhos espirituais que hoje clamam, espalhados por todo o mundo, a sua intercessão. — Santa Rita de Cássia, rogai por nós!

Via Padre Paulo Ricardo

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