Existe uma receita para um Namoro Santo? Descubra aqui

Eu cresci em uma fé católica desde criança. Aos 12 anos fui crismada e aos 13 comecei a ser catequista, algo que durou até meus 16 anos. Diferente de muitos de meus amigos e conhecidos, não tive uma vida desregrada para depois passar por um grande processo de mudança. Desde criança, então, sou instruída por minha mãe a viver uma vida casta, especialmente no namoro, que é o período de preparação e conhecimento para o sacramento do matrimônio.
O fato é que ter tido uma vida cristã desde sempre tem suas vantagens e desvantagens. A vantagem, óbvio, é você não ter feito nada de muito errado na sua vida. A desvantagem é a vaidade e o orgulho que costumam abraçar sua sombra de “bom católico”.
Na tentativa de nos desvencilharmos da vaidade e do orgulho, e na busca por viver cada vez mais profundamente a fé, acabamos por cair em extremos… Às vezes o pudor excessivo, às vezes o desleixo.
Por esse caminho descobrimos – após muitas quedas, após muitos machucados, após muitas orações e sacramentos – que não existe uma receita pronta para ser santo. Existem, é claro, os mandamentos, o Catecismo da Igreja Católica, o exemplo dos santos que já passaram por esta vida e os diversos documentos do Magistério da Igreja. Mas nenhum deles, nenhum, é um passo-a-passo de como devemos viver. Todos são balizas, direcionamentos, mas não uma receita pronta de como agir.
Isto porque seria muito fácil ir para o céu se existisse receita. “Siga isso, faça isso e você ganha aquilo”. Não! Parafraseando Santo Tomás de Aquino, as regras morais são genéricas e universais, enquanto as situações concretas são todas individuais. Deus nos deu inteligência para buscarmos as virtudes, progredirmos no conhecimento, e utilizá-la bem nas diversas situações de nossa vida. Quando crescemos em virtudes e buscamos uma união profunda com Deus, saberemos discernir e aplicar esta baliza contida no Magistério nas diversas situações tão particulares de nossa vida.
Mas, voltando ao assunto deste texto, assim como não existe um passo-a-passo para ser um bom católico, também não existe um passo-a-passo para ter um namoro santo.
Já li muitos textos, homilias, pregações e afins dando conselhos muito práticos para o namoro: tempo de duração, regras de comportamento, modos de tratamento. Houve uma época, não muito distante, que eu partilhava esses textos com frequência no facebook e entre meus amigos. Aos poucos fui mudando meu posicionamento e percebendo que determinadas “regras” e “indicações práticas” podem funcionar para algumas pessoas, mas para outras, não.
Eu tenho muitos casais de amigos que tiveram namoros santos. Um dos casais namorou por 7 anos na castidade. Ambos eram pessoas de missa diária e confissão frequente. Não tinham problema em ficar sozinhos no carro, porque quando isso acontecia e não estavam em trajeto, iam logo rezar o terço. Outro casal namorou por 10 anos castamente. Conheço também exemplos de menor duração: 5 anos, 4 anos, 3 anos, 1 ano… O fato é que Deus tinha preparado uma história especial para cada um e queria formar homem e mulher de acordo com os planos Dele.
namoro santo
Muitos amigos mudaram muito desde o início do namoro. Se tornaram menos egoístas, passaram a ser mais maduros, começaram a valorizar coisas que não valorizavam, buscaram com mais frequência os sacramentos e se tornaram mais próximos de Deus.
Deus pode fazer do namoro um tempo de conversão e também de modelamento. Ele pode fazer deste período uma época para esculpir-nos e fazer com que confiemos mais em Sua providência.
É claro que há que se iniciar um namoro se você está realmente interessado em se casar com aquela pessoa um dia – e isto é uma das balizas que fornece a Igreja. Porém, estabelecer tempo de namoro é deixar de confiar na providência de Deus. É Ele Quem faz os planos, não nós. Ele coloca a pessoa em nosso caminho. A nós cabe rezar, discernir, e usar o nosso livre arbítrio.
Posso visitar meu namorado sozinho em casa? Posso beijar minha namorada? Posso leva-la para jantar? Podemos assistir a um filme juntos? Devemos sair sozinhos ou sempre com amigos? A Igreja não fornece respostas para estas perguntas, porque não quer subestimar nossa inteligência e porque não há respostas prontas para situações individuais de pessoas singulares. Tudo depende. Depende de vários fatores, desde o tempo de namoro, o grau de maturidade, o grau de auto controle, o grau de autoconhecimento, até se ambos recebem os sacramentos com frequência e se são pessoas mortificadas.
 
O ideal para quem quer viver um namoro santo é ser uma pessoa que busca todo dia a conversão. Sim, temos pés de barro. Podemos cair. O pecado original está em nós. A missa diária e a confissão frequente são auxílios mais que necessários para alguém que busca a santidade. Diz Santo Tomás que por meio do sacramento da Eucaristia “o homem é estimulado a fazer atos de amor e por eles se apagam os pecados veniais” e também “somos preservados dos pecados mortais, porque a comunhão confere o aumento da graça que nos preserva das culpas graves” (Santo Afonso de Ligório. Prática do amor a Jesus Cristo. Aparecida: Ed Santuário, 2014, p. 32).
Direção espiritual é outro ponto extremamente importante. Não somos bons juízes de nós mesmos. A direção espiritual, tanto individual, quanto para o casal, auxilia no reconhecimento das potencialidades e fraquezas da união e permite que o casal cresça em maturidade e espiritualidade. Muitos diretores espirituais ao longo dos séculos aconselham que devemos nos afastar das ocasiões de pecado se queremos crescer em graça. O diretor pode ajudar o casal a identificar estas situações de pecado – que variam de casal para casal, apesar de existirem padrões (como evitar relação sexual e carícias preparatórias para ela). A importância da direção está, também, em não nos deixar cair em puritanismos, escrúpulos ou ideias distantes de uma verdadeira fé católica, que pode nos levar a entender a fé de uma maneira reducionista e mesquinha e não a amadurecer nela.
Abastecidos de sacramentos e com o direcionamento espiritual, é possível crescer em virtudes. A caridade, forma de todas as virtudes (CIC 2346), nos direcionará a evitar determinadas situações e manifestações de afeto por prudência e amor ao próximo.
Amar é fazer de tudo para o outro aproximar-se do céu. É claro que temos desejos – e seria próprio do gnosticismo desprezar nosso corpo e seus instintos. Todavia estes instintos devem estar ordenados pela razão para que eles não nos dominem, mas entrem em equilíbrio com nossa racionalidade. O pecado escraviza. O amor e a verdade libertam. O pecado nos cega, nos faz dependentes de mesquinharias, nos leva a exigir mais do outro. O amor nos leva a dar mais de nós mesmos, a querer morrer para fazer o outro viver. Estes princípios – frisa-se, princípios, não regras, receitas, e afins – é o que a Igreja nos direciona para viver. São direcionamentos, como um manual de instruções, como um conselho de alguém sábio, como as leis que existem para que possamos viver de maneira saudável em sociedade.
Carol, daqui do blog, certa vez me lembrou que o matrimônio é um meio para alcançarmos o céu. Sim, muitas vezes nos esquecemos disso. O namoro, o matrimônio, são meios, e não o fim último de nossas vidas. Tudo o que fazemos aqui na Terra são vias, meios.
Que o nosso fim seja o céu e que nunca deixemos de nos fixar nisto!
Com carinho,

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