Sacerdote de 75 anos se recusa a sair de convento interditado no Recôncavo

Um dos maiores bens da igreja e do convento de Santo Antônio tem valor incalculável. De fala baixa, cansada e tímida, o frei Hermano, alemão de 75 anos que veio para o Brasil fugindo da guerra, está desde fevereiro do ano passado no convento e conquistou todo o município de São Francisco do Conde, no Recôncavo, por seu bom humor e devoção à religiosidade.

Conhecido como “frei fofinho”, Hermano se recusou a deixar o convento mesmo após a interdição. “Ele não quis sair de jeito nenhum. Mal aceitou mudar de quarto”, lembra Hebert Costa, diretor da Defesa Civil de São Francisco do Conde, com semblante preocupado.

Valdelice dos Santos, coordenadora geral da Comissão Salve o Convento, explica a relutância do frei. “Ele é muito disciplinado e ligado à religiosidade. Aqui, ele faz diariamente quatro horas de oração. E acho que ele não tinha noção do risco que corria”, afirma. O frei aproveita o claustro do convento para se exercitar também. “Toda manhã, ele faz caminhadas por aqui, ele se preocupa muito com a saúde dele”, conta Valdelice.

“Tive que trocar [de quarto] porque corria risco de desabar o teto, mas isso não vai acontecer”, diz o “frei fofinho”, entre risos.

A sabedoria, no entanto, fala mais alto e ele completa: “Mas, com segurança a gente não pode brincar”. Perguntado sobre a possibilidade de deixar o convento, ele responde rápida e claramente, com sotaque carregado. “Não, não! Vou continuar aqui!”.

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O quarto onde o frei dormia está localizado em cima do refeitório, que é a parte mais crítica da construção. Na quarta-feira (3), a relocação do sacerdote foi feita após a Defesa Civil municipal constatar que a laje do refeitório apresentava sinais de que estava cedendo.

No Brasil, Frei Hermano se instalou inicialmente no estado do Pará, no Norte do país. “Ele teve muito contato com a missão junto aos índios Tiriós. Ele gosta de ficar mais próximo da realidade do povo, por isso escolheu essa missão”, explicou frei Elias, representante da Ordem dos Frades Menores.

“É um frade muito simples, muito humilde, reza muito e também muito fraterno, acolhedor e muito simpático. É muito querido pelo povo franciscano. Nós temos testemunhado juntos o evangelho com o exemplo da mobilização da comunidade pelo convento”, conta frei Rogério, que chegou ao convento junto com o frei Hermano, em fevereiro do ano passado.

Sobre as restaurações, Hermano pondera. “Acho que vão acontecer. Mas precisamos de dinheiro, porque sem dinheiro não fazemos nada”, conclui. Por enquanto, o frei Hermano habita sozinho do convento. Além dele, outros dois freis vivem na construção: Rogério e Vicente. O primeiro está ausente para tratamento médico e o segundo, para uma reunião.

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